top of page

Em  toda  parte

Rizzo Mágico

Fotografia: Daiana Almeida. Beira Mar - Fortaleza

Domingo à noite, a Avenida Beira-Mar, em Fortaleza, é quase sempre lotada. Casais das mais variadas idade andam de mãos dadas. Jovens pedalam ou andam de patins. Há os que aproveitam para correr. Cachorros de diversas raças passeiam com seus donos. O pôr-do-sol é sempre um espetáculo com suas luzes e cores. Ali naquele pedaço, Fortaleza sabe ser poética.

 

Compondo esse cenário, virou normal vermos muitas pessoas apresentando sua arte, das mais diversas. Aquele calçadão é um verdadeiro festival cultural onde encontramos gente pintada, gente pintando, gente moldando escultura e gente fazendo rir. E foi fazendo as pessoas rirem que encontramos Roberto Rizzo, 33 anos.

 

Andando no calçadão, deparamo-nos com uma roda de pessoas e o riso ali corria frouxo. No centro, havia um rapaz que contava coisas engraçadas com uma voz mais engraçada ainda. Aparentemente iria começar uma performance, e seus espectadores aguardavam ansiosos pelo início. Com ele havia uma garotinha que não devia ter mais de cinco anos. O rapaz fazia brincadeiras com ela e ela, muito esperta, respondia tudo, o que tornava a coisa toda ainda mais bonita de se ver.

 

Resolvemos parar para observar e então... “Ei, loirinho, vem cá!”. Eu olhei então ao redor torcendo para que houvesse outro loirinho. “Eu?” perguntei, mas já sabendo a resposta. “Não, eu!” e todos riram e eu tive a certeza que era comigo mesmo que ele estava falando. Já estava tão encantado com todas as histórias de artista de rua que eu havia conhecido, que imediatamente qualquer vestígio de vergonha que eu pudesse ter passou e eu fui participar daquela arte também. Recomendo.

 

Ele, claro, fez diversas piadas comigo e eu ri com todos os outros que riam também. Supostamente a gente iria tirar uma cobra de uma caixa e foi ali que descobri que além de humorista, ele era mágico também. O número de pessoas que se aproximava crescia junto com a curiosidade que pairava no ar: sairia mesmo uma cobra daquela caixa?

 

Quando viu que sua plateia aumentou, Roberto pegou uma garrafa d´água e demarcou um círculo. O artista ficava cada vez mais empolgado com a atenção que conseguia atrair e realmente todos estavam muito absortos com o desfecho daquele número.

 

Então, estava eu apontando um pedaço de pau que supus que estava fazendo as vezes de varinha, para a caixa, e ele também apontando um pedaço de jornal enrolado como que fosse também uma varinha de mágico e... pingos. Não da caixa, mas do céu. Mais pingos. Roberto não deixava o personagem sair e fazia piada com o chuvisco. A essa altura, já tinha soltado um palavrão, lógico que na brincadeira, já prevendo que seu show estava por um fio. Os pingos se intensificaram e o chuvisco virou chuva e todos correram dali. “Peraê! Num vão embora, não, que eu ainda vou pedir dinheiro a vocês!”. Todos riram, mas não ficou ninguém.

 

Não é um balde de água fria

 

Engana-se quem pensa que o show acabou ali. Verdade que muitos foram embora, mas outros se abrigaram numa lojinha bem ali próxima. Roberto se juntou a esse pessoal e continuou no seu personagem, fazendo todos que estavam ali rirem como se ainda estivessem acompanhando seu espetáculo. Um artista precisa estar preparado para certos imprevistos que acontecem no cenário, não é mesmo? A chuva caía, mas o show tinha que continuar.

 

A menininha que estava com ele no começo do show se aproxima novamente e descobrimos que ela é filha dele. Talvez tenha herdado o talento do pai, porque mesmo muito pequena, interage lindamente com o rapaz. A chuva para, era só uma nuvem, mas aqueles que ainda restavam seguem seus caminhos. Cabe a Roberto tentar atrair a atenção de outra plateia. Mas aquela noite, não foi uma noite feliz para Roberto, choveu bastante naquela noite e seu show teve que parar.

 

“Faço humor, levo alegria”

 

Roberto já é um conhecido do público cearense. Com 33 anos, já passou por programas da Rede Globo, Rede Record e SBT. Também já fez shows de stand-up comedy em lugares fechados nas proximidades da Avenida Beira-Mar. Roberto ainda mantém um canal no youtube, mas confessa que não tem dado tanta atenção a ele. Diz que seu sustento vem unicamente do humor. “Primeiro eu tenho que fazer isso daqui por amor, depois é um meio de sobrevivência. Faço humor, levo alegria.”.

 

Como todo artista, queixa-se de quem não dá o devido valor ao seu trabalho. “Sempre tem um gaiato que não valoriza o que a gente faz, né? [...] As pessoas as vezes não contribuem tão bem, o povo ri pra caralho, assiste o show, mas na hora que peço dinheiro, as pessoas vão embora. Isso é chato. Não é obrigado, mas você está ali, sorrindo, interagindo, participando, que custa dar 0,50 centavos?”.

 

E segue refletindo: “Seria bom ajudar, poxa! ‘Ele fez eu rir. Enquanto muitos fazem eu chorar ele fez eu rir’”. Perguntado se todo mundo aceita brincar com ele como eu aceitei, ele diz que vez em quando aparece um que não gosta de uma piada ou outra. Faz parte da vida. Faz parte do show.

 

Deixamos Roberto arrumando suas coisas, ou melhor, seu cenário para a próxima apresentação. Quem será sua próxima plateia? Não sabemos. Se encontrará pessoas simpáticas que embarquem na sua brincadeira? Não sabemos. Se realmente a tal cobra vai sair da caixa? Também ficamos sem saber. O que realmente sabemos é que conhecemos um homem que mesmo vendo seu “palco” desmoronar, não desiste do espetáculo.

 

Por Gustavo Castello

Escute um pouco da minha história

Rizzo.png
bottom of page