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EDITORIAL

Nossa arte

O que é belo numa cidade? Sua arquitetura peculiar com seus prédios históricos e modernos? Sua paisagem singular? O que faz saltar aos teus olhos? Praias, lagos, riachos? Parques, praças e trilhas? O traçado urbano? A beleza de uma cidade está no seu povo. A cidade é um grande livro de histórias das mais diversas. Personagens que todos os dias saem de suas casas, pegam seus ônibus, vão aos seus trabalhos e voltam cansados ao fim do dia. Em cada esquina, mocinhos e vilões se cruzam. No meio desse espetáculo, querendo um lugar de destaque no palco, está o artista de rua.

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Estamos tão apressados contra vários prazos finais, focados em nossos afazeres que sempre olhamos para frente, raramente para os lados. Quando nos damos esse luxo de contemplar o redor, às vezes nos deparamos com algo novo. Novo ou será que sempre esteve ali?

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Os artistas de rua sempre estiveram ali. No meio da nossa impaciência com o sinal vermelho do trânsito, ele tá lá, na faixa de pedestre, com bolinhas, facas e o que quer que seja para fazer seus malabares. Se atravessamos a Praça do Ferreira, desviando da multidão que vai e vem, o artista está lá fazendo graça para uma roda de gente. Seria bom parar, né? Seria bom apreciar. Mas nós sempre estamos tão ocupados.

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Em um momento de lazer, ao andar no calçadão da Beira-Mar, passamos por uma, duas, três estátuas vivas. Como eles conseguem ficar tão imóveis? Eles ficam. Nós, não: Seguimos nosso caminho depois de deixar um trocado. Não há palmas, não há vivas, não há pedidos de bis.

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O que há de mais bonito em uma cidade é o seu povo e uma das coisas mais bonitas que um povo pode fazer é a arte. Ela nos dá um suspiro de alívio em meio a um cotidiano caótico. Os artistas de rua são nobres. Beto sai de casa todo dia, faça chuva ou faça sol, atrás do pão de cada dia da família. Põe-se a frente de dezenas de carros com pais e mães de família correndo atrás do mesmo pão e joga suas bolinhas no ar. Não cai nenhuma. Captura todas.

 

Beto capturou a atenção de quantos? Se não há aplausos, pelo menos há de ter moedas. O artista encontra vidros levantados e olhares desconfiados. Bom, pelo menos se sente salvo pela arte: garotos bem semelhantes ao Rodrigo não tiveram a mesma salvação.

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Enquanto o turista anda pelos corredores do Mercado Central, apreciando as maravilhas produzidas pelo nosso povo, uma voz ressoa músicas nordestinas. É a voz da Vanda que alegra todo mundo. Cega, junto com dois irmãos cegos, aproveitaram a voz e no lugar de lamento, levam alegrias por onde passam.

Os irmãos malabaristas sonham grande. Ao mesmo tempo em que fazem seus malabares, planejam um futuro melhor, igualzinho ao estudante que passa por eles, no mesmo sinal, indo para Faculdade de Direito, a dois quarteirões dali. E quantos jovens naquela “plateia” de carros não sonham o mesmo?

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A vida é um espetáculo diário. Essas pessoas apenas resolveram de fato assumir o personagem e enfrentar essa “peça”. Como palco, tem o asfalto. Para que melhor iluminação que a luz solar? Os elementos de cena são as placas, as árvores, o concreto. Nós somos os figurantes. Eles são a poesia no meio de todos. Uma salva de palmas a todos eles!

Em  toda  parte

Em cada avenida e encruzilhada

Vejo de longo e de leve figuras animadas

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São formas de arte expressas por humanos

Que transmitem paz nesse alvoroço 

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Caminhos traçados  com muito esforço e esmero

Não na rua dos bobos, mas de número infinitos

Por Leonardo Reis

CAMINHOS TRAÇADOS

Por Gustavo Castello

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