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Em  toda  parte

Fogo e Tinta

Fotografia: Daiana Almeida. Beira Mar - Fortaleza

Em mais um dia cobrindo pauta para este especial, resolvemos ir ao centro do artesanato local, Beira Mar foi o nosso destino. Caminhando pelo calçadão dessa praia tão bela da capital Cearense, sentindo o cheiro da brisa daquela imensidão do mar azul, encontramos um lugar colorido, cheio de pinturas, cordões, roupas, pessoas e muitas histórias incríveis para compartilhar com vocês. Tínhamos um objetivo; com a arte de rua nós queríamos esbarrar. Mas não seria uma tarefa tão difícil, afinal em toda parte que olhávamos tinha arte para ser desfrutada.

 

Mas alguém em especial nos chamou atenção. Um homem magro, com um chapéu vermelho acaba de chegar para fazer ali o que ele sabe fazer de melhor, mostrar a sua arte é o que ele pretende. Espalha alguns papéis e latas de spray no chão. Mas mal sabia ele, que aquela noite seria diferente. Três estudantes de jornalismo se aproximam dele e começam a conversar.

 

No começo somos recebidos de forma ríspida, “Não posso!”, o homem responde, mas tentamos convencê-lo a nos ouvir. Então, com aquele jeitinho brasileiro, vamos conquistando K-Liche. Enquanto o cubano de 48 anos vai transformando aqueles papéis brancos e sem vida em arte, ele nos conta um pouco de sua história. O artista está no Brasil há 4 anos e 7 meses, sempre gostou de estar envolvido com pinturas e quando morava em Cuba, tinha um ateliê.

 

Se mudou para Fortaleza e percebeu que a arte de rua era muito valorizada pela prefeitura local, gostou da cidade e fez daqui o seu lar, “A prefeitura de Fortaleza, foi uma das que mais me fez ficar aqui, pela oportunidade que ela me abriu, ela apoia muito nós artistas, ela valoriza os artistas, eu tiro o chapéu por isso”, diz com bastante entusiasmo.

 

Em alguns minutos, o papel em branco vai se transformando em uma noite estrelada de lua cheia, um lobo surge no alto da montanha. A tela está quase pronta. Toda essa beleza atrai os olhares de muitos que passam por ali. Aquele método que dá vida aquele papel se chama aerosolgrafia, que consiste em uma técnica mexicana. Os pincéis dão lugar a papéis amassados, que são utilizados para moldar a pintura, as tintas são substituídas por sprays. Nos espantamos quando surge fogo na tela, mas K-Liche diz que é para dar um toque final na obra.  

 

Uma tela perfeita é construída em poucos minutos, nos admiramos quando descobrimos que o cubano faz aquilo há pouco tempo. Pois é tudo tão perfeito para nós observadores. “Na realidade, eu estou ainda aprendendo, faz só uns 7 meses que faço isso, cada dia é uma aula, mas quanto mais eu faço todo dia, mais chegará a perfeição”, contou.

 

Somos interrompidos quando chega um homem que deseja comprar as obras de K-Liche, as pinturas que estamos vendo no chão da Beira Mar viajarão para fora do Brasil, farão parte da decoração de uma sala de uma casa em um lugar distante dali. A arte tem esse poder mesmo, de viajar pelo mundo, de transformar nossa maneira de pensar e entender o mundo. Depois da pausa, voltamos para a nossa conversa e perguntamos o que tudo isso representa para o cubano.

 

Ele com uma alegria contagiante diz, “A arte para mim é liberdade, eu nunca em la minha vida me imaginaria ganhar um real com essa minha arte, a partir do momento em que eu comecei a trabalhar com minha arte, uma parte de mim se libertou, por que fazer arte é bom demais, se não fosse pelo material eu fazia de graça, por que é um prazer para mim. É a liberdade espiritual que me proporciona, mesmo que você faça uma coisinha insignificante, se você faz com amor isso te liberta, e eu sou apaixonado pelo meu trabalho”.

 

K-Liche faz coisas incríveis, mas como diz a música de Jorge Vercillo, “Mais do que fazer, a mágica da arte está em olhar. Mesmo esta canção sem ninguém pra ouvir,  Que fim terá?" A rua tem um potencial incrível de comunicação, mas para a arte ser completa, precisamos de observadores, valorizemos mais a arte de rua.

 

Por Daiana Almeida

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Escute um pouco da minha história

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