top of page

Em  toda  parte

Dona Flor

Fotografia: Leonardo Reis e Daiana Almeida. Praça do Ferreira.

Passeando pela Praça do Ferreira, lugar cheio de sonhos e histórias, avistamos uma senhora sentada no chão com muitas palhas de coqueiro ao seu redor. Aproximamo-nos e começamos a conversar com ela. Perguntamos sobre a arte que a vimos fazer: rosas, corações e esperança (aquele insetinho, sabe?), todos feitos daquela palha. Produtos que refletem o que tudo aquilo trouxe para ela. Tudo é feito com tanto carinho e dedicação, que é perceptível aos olhos de todos que passam por ali.

Sentamos ao seu lado e começamos a fazer algumas perguntas. De sua boca, sai uma voz suave e ela começa a contar sua humilde história. O nome dela é Janete, 36 anos, mãe de sete filhos. Piauiense de nascimento, veio para o Ceará há muitos anos

 

A história que Janete começa a relatar revela que ela era uma moça cheia de dificuldades e sem perspectivas de mudança. Quando chegou do Piauí, não tinha sequer lugar para ficar, muito menos pessoas que pudessem apoiá-la. Sozinha no Ceará, a jovem Janete não avistava esperança em meio a tanta tristeza que a perseguia. Tornou-se, então, usuária de drogas e foi viver nas ruas. Sua casa era um banco de praça. Seu cobertor, um papelão.

Certo dia, andando por Fortaleza, Janete chegou a um lugar “muito bonito e colorido”. Era o Centro Cultural Dragão do Mar. Algo chama a atenção dela: um homem, sentado no chão, produzia os mais belos produtos feitos com aquilo que logo Janete identificou como palha de côco. Ela se encanta pela arte que aquele homem fazia e começa, então, a prestar atenção em tudo detalhadamente. O artesão termina seu trabalho, levanta-se e vai embora, sem saber que despertou luz e esperança na vida daquela moça que o observava. Janete nem imaginava encontrar tanta beleza naquele local.

A jovem sai dali com seus sonhos renovados. Empolgada, procura palhas nas ruas para exercer o ofício que acabara de aprender. Logo ela percebe que também é boa em fazer aquelas verdadeiras obras de arte que tinha observado aquele homem desconhecido produzir com as mãos. Mais que esculturas em palha de côco, aquilo que Janete começava a modelar entre seus dedos mudaria sua vida para sempre. Trabalha e trabalha naquelas palhas e vai aperfeiçoando seu trabalho. São tão bonitos! Não demora e uma renovada Janete inicia as vendas de suas artes no coração da cidade de Fortaleza, a Praça do Ferreira. Aos poucos tudo aquilo vai dando resultados e ela encontra um motivo para sorrir novamente.

Com a ajuda de Carlos, atual parceiro, ela percebe que pode, sim, conseguir sair das drogas e ter um lar novamente. Depois de muitos meses, ela se liberta dos entorpecentes e é beneficiada por um auxílio da Prefeitura, com o qual consegue ter seu cantinho para se abrigar. Uma casa alugada, da qual ela tem muito orgulho de dizer que a paga com o dinheiro dos artesanatos que vende.

Encantada com aquela mulher simples a mexer naquelas palhas, pergunto se as pessoas apreciam seu trabalho e ela, com um olhar distante, lamenta. “As pessoas de fora valorizam a arte. As daqui, num compram muito, não”. Mesmo diante disso, a artista fala que consegue pagar suas contas, graças aos os turistas que apreciam apreciam muito suas obras e querem levá-las para casa como recordação.


Questiono-a sobre o que o artesanato representa. Um brilho nos olhos da artesã se revela. “A arte que eu faço representa muita coisa. Um dom de Deus que me tirou das drogas. É tudo. Me ajudou a ter uma casa. Eu, antes, vivia perambulando nas ruas”, define.

 

Atualmente, Janete é grata por tudo, mas um sonho ela ainda tem. Curiosa, pergunto qual seria. Sempre com um sorriso no rosto, ela finaliza: “O meu maior sonho é ter o meu cantinho, minha casa própria. Sei que um dia eu conseguirei”. 

Por Daiana Almeida

janete.png

Escute um pouco da minha história

bottom of page